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Era uma vez uma garotinha que adorava criar, inventar moda, fazer trabalhos manuais. Ela sonhava, pensava em um pequeno negócio, colocava em prática e a irmã dela vendia e logo depois ela cansava e abandonava tudo em um canto.
Foi assim desde os seus 09 anos, quando certa vez minha mãe envergonhada quis saber porque minha irmã mais nova estava vendendo perfumes com flores esmagadas para as colegas de sala. Depois disto foram inúmeras outras viagens. Camisetas, bijuterias, velas, sabonetes, ovos de páscoa, brindes, papelaria entre outras. Tudo sempre começava com um sonho, mil ideias e terminava com um monte de bugiganga entulhada no canto.
Veio a faculdade, o trabalho e a pós em gestão de negócios e marketing que jogou uma nova luz sobre a capacidade criativa. Era preciso um plano negócio sério para colocar em prática o projeto. E veio, como conclusão de curso mais um empreendimento que parou no fundo da gaveta. Bolsas em tecidos pela internet. A marca teve até logo e nome.
E a vida seguiu seu curso. Excesso de trabalho, casamento, amigos, viagens e todos os projetos empoeirando na estante. Até que um pequeno príncipe surgiu em minha vida e me trouxe de volta a capacidade de sonhar, acreditar, imaginar. Estava plantada a sementinha. Licença maternidade. Para ou não para de trabalhar? Não para! Ih, melhor parar. Parei! Que tédio! Perdida. Melhor voltar. Volta… Ihhh, mas espera. Outro príncipe a caminho.
E os planos que a gente não faz são muitos melhores do que os que a gente faz. Com um bebe na barriga e outro no colo, a vontade de ser dona do nariz, do meu tempo crescia. Enquanto isto, surgiam as primeiras lojas de bolos caseiros em São Paulo. Poderia ser uma boa trazer isto para cá. Mas cadê coragem? Não era a hora. Tudo a seu tempo.
Meses depois. Nossa! Aquelas lojas de São Paulo estão “bombando” eu ia gostar de ter uma por aqui. Gostar não! Amar. São a minha cara. Tá louca? Com criança pequena? Marido sem trabalhar? E o dinheiro?
Plano de negócios, marca, logotipo, site, papelaria, aluguel do espaço, reforma, testar milhões de receitas, contratar funcionárias, inauguração com festa. Tudo em um mês! Ufa! Achou pouco? Então acrescente dois bebes e subtraia toda e qualquer ajuda doméstica. A babá só veio depois de dois meses da loja inaugurada. E já se foi…
E foi assim que com um filho de quase 2, e outro de 3 meses no colo, no olho do furacão, decidi me jogar de cabeça em uma lojinha de bolos caseiros em um centrinho comercial perto de casa. Nasceu meu terceiro filho.
Como não existiam em minha família nenhum comerciante ou empresário do ramo alimentício a experiência inicial era zero. Munida apenas de algumas poucas receitinhas de bolos, criatividade, dedicação, força de vontade, amor e doses extras de perseverança. Mas tanta, tanta que nem sabia que seria capaz de ter.
E desde então, joguei muito bolo fora, carreguei muito fardo de farinha, me irritei com funcionaria sem comprometimento, briguei com fornecedor, testei e criei receitas, divulguei a marca, coloquei literalmente a mão na massa, derrubei bolo no chão. Trabalhei praticamente de graça. Tive dias ruins. Sentei e chorei. Pensei em desistir. Mas prossegui. Mesmo quando todos haviam jogado a toalha no dia seguinte acordava com mais vontade. Este é meu sonho e só desisto dele com a convicção de que fiz o possível, o meu melhor.
E tudo que fazemos com amor dá frutos. Se faltou vivência sobrou dedicação, desde a foto amadora tirada comparada a de um profissional, passando pela decoração do espaço e das receitas relíquias conquistadas. Elogios dos clientes sobram e aquecem a alma. Como um bolo quentinho feito pela nossa avó servido com café no fim da tarde. Realização e reconhecimento vieram. Falta ainda o retorno financeiro. Ser empresário no nosso país não é fácil.
Hoje olho para trás e lá se vão quase um ano. E penso: mulher que coragem! Sem dinheiro, sem experiência, sem pé de meia, com dois filhos pequenos. Ninguém pode mais me acusar de não tentar, de desistir facilmente. Que orgulho de mim mesma. Enfim é a maturidade. Ou será a maternidade?
Para viver é preciso coragem. Cada escolha leva a um resultado, não existe volta. Tropeçou, caiu, levantou. Errou? Tente de novo. Se arrependeu? Mude o curso. Estava na estrada errada? Admita, assuma, erga a cabeça e volte atrás. Mas jamais desista do que te faz feliz!
Quem quiser conhecer a lojinha no centro comercial de alphaville. Seja bem vindo! A Mercearia Dona Boleira espera vocês de braços abertos.
Publicado por Fabi Borgheresi | Filed under Heroínas do Cotidiano