Hoje acabo o día pensando em como somos forçados a usar máscaras em diversos momentos. Mesmo o mais sinceros dos seres terá que se valer disto vez ou outra. Mesmo sendo não concordando, sei que para vivermos em sociedade as mentirinhas “saudáveis” acabam fazendo parte do nosso cotidiano. Desde que não prejudiquem ninguém é até aceitável, algumas vezes educado. Não é de bom tom dizer que não gostou daquele jantar horrível que sua melhor amiga preparou para você ou dizer para a sua a tia avó que não, você não vai usar aquela tiara brega de oncinha que ela te deu de natal.
O grande problema está em quando a vida toda vira uma grande mentira. Famílias que ostentam luxo e riqueza mas não possuem dinheiro nem para pagar em dia os empregados. Amizades falsas pautadas em interesses pessoais e comerciais. Casamentos de fachada. Entre tantas outras.
As vezes me pergunto se o mentiroso crê tanto no que diz que para ele o fato passa a ser tão verdadeiro que se torna real. Todo mundo esbarrou ao menos uma vez na vida com estes contadores de história. E sempre que penso no assunto lembro de algo que aconteceu há alguns anos atrás com um casal de amigos da faculdade.
Vivi e Rafael haviam se conhecido no colégio e eram o tipo de casal ardente e apaixonado que incomodavam a todos os invejosos de plantão. As meninas suspiravam com os presentes, flores e juras de amor trazidos pelo sensível e romântico Rafael. E os homens tinham a descolada e confiante Vivi como um modelo de namorada ideal. Rafael vivia leve e solto como na época de solteiro sempre voltando para a sua fogosa amada.
Como todo conto de fadas moderno o namoro dos dois durou anos, passou no vestibular e se formou com um belíssimo casamento. Festa chique brindando a felicidade dos noivos. Foram o primeiro casal da turma a selar o compromisso com uma aliança. Depois da viagem de lua de mel e da rotina de recém casados instalada muitos esperavam que as reclamações (naturais da rotina, pensávamos) surgissem.
Mas que nada! A cada reunião das meninas da turma Vivi trazia mais histórias de como era bom a vida a dois. De como o casal estava cada dia mais apaixonado, de como cada problema trivial era resolvido com beijinhos e como cada briga acabava em sexo selvagem. Nem o sexo esfriou perguntava uma? De forma alguma a intimidade coloca fogo na relação respondia a sortuda da Vivi. Pareciam até mesmo almas gêmeas.
O casamento durou exatos três anos. E neste meio tempo serviu de exemplo e inspiração para os outros reles mortais com seus problemas e dúvidas do cotidiano. Final da história não tão feliz para nossos protagonistas.
Casamentos acabam, amor acaba mas nem por isto a relação do casal 20 foi construída em uma base de mentira, você poderia estar pensando. Sim, concordo plenamente. Esta seria a conclusão do conto se o romance não tivesse chego ao fim porque Vivi flagrou Rafael beijando seu melhor amigo em sua própria casa enquanto deveria estar no trabalho.
Vindo de uma família muito rígida Rafael passaria a vida toda no “armário” se não fosse surpreendido naquela tarde. Mas e o sexo selvagem? Nunca existiu. Foi o que Vivi me confessou aos prantos. Rafael havia sido seu primeiro e único homem e ela nem se quer curtia os momentos íntimos a dois. As relações eram frias e Vivi imaginava que poderia ser algo errado com ela. Nossa personificação de mulher bem resolvida sexualmente, não tinha nem experimentado um orgasmo. Sabia fingir muito bem para o marido fiel consumidor de viagra.
A mulher autoconfiante não passava de uma garota frágil com muito medo de não ser aceita. Para se sentir segura criou um mundo de mentiras no qual poderia reinar. Os dois eram na verdade melhores amigos se agarrando uma ao outro em busca de estabilidade.
Muitas vezes não conhecemos de verdade quem está do nosso lado. Entretanto nada pior do que passar a vida toda vestindo nossas máscaras sem nos deixar compreender.
E você já se olhou no espelho hoje? Conhece bem quem está do outro lado?