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Cresci rodeada de mulheres. Minha família, que também não é lá muito grande, é composta essencialmente pelo sexo “frágil”. Não tive irmãos, nem primos próximos. E como figura masculina presente e forte, quase que única e exclusivamente, estava meu amado pai. Ele por sua vez sempre viveu rodeado de figuras do sexo oposto. E foi muito mimado como todo homem cercado de mulheres acaba sendo.

Então, meu universo sempre foi muito rosa. Brinquei muito de boneca, aprendi a cozinhar, me interessei por moda e beleza, usava maquiagem e assim por diante. Nada de futebol, andar de skate, pular muro ou brincar de carrinho. Quando era pequena não falava palavrão, não conhecia revista de sacanagem, não brincava de atirar caquinha de nariz nos colegas de escola e nem de cuspe a distância. E tirando a parte do palavrão (acabo tendo que recorrer nas horas tensas) continuo sem fazer nada disto… rs

Mas ser mulher, no meu ponto de vista nunca foi sinônimo de fragilidade. Meus parâmetros eram o das super heroínas. Mulheres que carregavam o mundo nas costas. Trabalhavam fora, sustentavam e criavam os filhos, cuidavam da beleza e da casa e ainda tinham tempo para sonhar. Foi crescendo perto de todas as admiráveis mulheres da minha família que aprendi que ser mulher era ser forte. Sentir dor e sorrir, adoecer e pensar positivo, desejar e lutar, e claro defender a cria com unhas e dentes. Conhece aquela moça de porcelana que chora por tudo e precisa de um homem para se sentir protegida? Eu não. Ela não faz parte da minha família.

Com exemplos para seguir e admirar fui de menina me tornando mulher. E entendi o quanto podemos ser poderosas. O quanto somos boas para quem amamos. Acolhendo, cuidando, ensinando. Por outro lado, podemos ser também nossas maiores inimigas.

Minha primeira amizade feminina deu-se naturalmente com minha irmãzinha mais nova. Éramos companheiras de brincadeiras e confidentes desde que me entendo por gente. Amizade de irmã talvez nem conte. Afinal irmã é família. É alguém que iremos levar para sempre. Mas o que para mim e para você pode parecer óbvio, não é o mesmo para todas. Quantas já conheci que não são amigas das irmãs! Uma me disse uma vez que a irmã dava mole para o namorado dela. E outra achava que a irmã tinha inveja porque ela era loira (tingida). Sinto pena das duas. Amor de irmãs é um dos sentimentos mais bonitos que tem. Muito maior do que qualquer instinto de competição que possa existir. Imensamente superior do que qualquer massagem no ego.

E o que dizer das amigas que fazemos? Algumas são como primas e irmãs que escolhemos. Com sorte ficam por toda a vida. Sabem tudo de nós. Outras passam por nós mas não deixam de fazer parte da nossa história. Amizade masculina é muito boa. Simples, sem frescura, direta. Mas ao meu ver uma não substitui a outra. É uma pena que algumas meninas desconfiem tanto de outras enxergando em suas semelhantes apenas rivais. Sim, pois existem espécies da categoria que afirmam não serem amigas do mesmo sexo porque mulheres não são confiáveis (e estas são elas próprias o que? Alienígenas com peitos ?).

É fato que mulher se preocupa com a opinião das outras. Muitas até se vestem pensando nas outras. E não. Não são lésbicas. Mulheres em dias ruins com o espelho preferem encontrar o namorado do que as amigas. Mas enquanto meninas competem por melhor guarda roupa, corpos mais sarados, empregos mais interessantes, maridos mais bem sucedidos, filhos mais inteligentes e etc. Sejamos justas, homens também comparam seus carros, seus empregos, suas mulheres (em quantidade ou qualidade) e até mesmo o tamanho do dito cujo. Porque apenas nós devemos ficar com fama de competitivas?

Uma amiga, não daquelas amigas do peito, tinha uma enorme facilidade em fazer amizade com meninos. Conversava 5 minutos e lá ia a fulana contando toda a vida, expondo seus sentimentos. Foras que levou, traumas que tinha e toda a intimidade possível. Mas quando se tratava de outras mulheres levava meses para dar um voto de confiança. Eu mesma só consegui me aproximar depois de muito tempo. Já meu namorado da época levou minutos para atingir o mesmo grau de intimidade. Penso que pessoas assim muitas vezes são na realidade inseguras. Querem o palco apenas para elas. Não querem dividir a atenção dos amigos com outras mulheres. Querem ser as bonequinhas de porcelana da “turma”.

Mulher é sensível demais as vezes, tem TPM, sobe nas tamancas. Mas por isto mesmo nos entendemos nos nossos devaneios. Muitas amigas, e agora sim algumas até do peito, me dizem que não gostam de ser chefiadas por homens. Entendo, em parte, mas não concordo. Entendo porque sei que é duro nos agüentar “naqueles dias”, oscilações de humor, pouca paciência entre outros bichos. E sei que se relacionar com o sexo oposto no trabalho é, comprovado por pesquisas, mais fácil. Homens e mulheres tem menos desentendimento do que mulheres com mulheres e homens com homens. E ao mesmo tempo não concordo pois se acredito que uma mulher não é boa o suficiente para me chefiar eu estou afirmando que não sou e nunca serei boa chefe. Nem eu e nem outra qualquer. Só homens possuem competência para chefiar? Então, estaremos todas fadadas a sermos eternas subordinadas dos homens pelo resto das nossas vidas? Tudo por conta do nosso instinto competitivo.

Este assunto dá muito pano para manga. Cabe até discutir sobre mulheres que gostam de homens das outras. Não existem aquelas que se interessam apenas pelos casados? E as que roubam marido das amigas? Infelizmente, não tão raras assim.

Mas hoje vamos nos ater a questão da amizade… Em certos momentos de apuros ou de alegrias precisamos dividir, desabafar, compartilha com seres do mesmo “planeta” que o nosso. E não existe nada melhor do que um ombro amigo e feminino em certas ocasiões.

Se existe amizade verdadeira entre nós mulheres? Na minha opinião: sim, sim e SIM! Não com todas e nem a todos os momentos, mas podemos sim sermos tão sinceras, disponíveis e até mais intensas do que os homens.